Se o teu sol é verdadeiro, não tenha
medo das nuvens que o encobrem, pois um dia elas se dissiparão e o brilho do sol
voltará... Quais são os profissionais mais importantes da sociedade? Para
finalizar este livro, contarei uma história que revela a perigosa direção para
onde a sociedade está caminhando, a crise da educação e a importância dos pais e
dos professores como construtores de um mundo melhor. Tenho contado essa
história em muitas conferências, inclusive em congressos internacionais. Muitos
educadores ficam tão sensibilizados que vão às lágrimas. Num tempo não muito
distante do nosso, a humanidade ficou tão caótica que os homens fizeram um
grande concurso. Eles queriam saber qual a profissão mais importante da
sociedade. Os organizadores do evento construíram uma grande torre dentro de um
enorme estádio com degraus de ouro, cravejados de pedras preciosas. A torre era
belíssima. Chamaram a imprensa mundial, a TV, os jornais, as revistas e as
rádios para realizarem a cobertura. O mundo estava plugado no evento. No
estádio, pessoas de todas as classes sociais se espremiam para ver a disputa de
perto. As regras eram as seguintes: cada profissão era representada por um
ilustre orador. O orador deveria subir rapidamente num degrau da torre e fazer
um discurso eloqüente e convincente sobre os motivos pelos quais sua profissão
era a mais importante da sociedade moderna. O orador tinha de permanecer na
torre até o final da disputa. A votação era mundial e pela Internet. Nações e
grandes empresas patrocinavam a disputa. A categoria vencedora receberia
prestígio social, uma grande soma em dinheiro e subsídios do governo.
Estabelecidas as regras, a disputa começou. O mediador do concurso bradou: "O
espaço está aberto!" Sabem quem subiu primeiro na torre? Os educadores? Não! O
representante da minha classe, a dos psiquiatras. Ele subiu na torre e a plenos
pulmões proclamou: "As sociedades modernas se tornarão uma fábrica de estresse.
A depressão e a ansiedade são as doenças do século. As pessoas perderam o
encanto pela existência. Muitas desistem de viver. A indústria dos
antidepressivos e dos tranquilizantes se tornou a mais importante do mundo." Em
seguida, o orador fez uma pausa. O público, pasmo, ouvia atentamente seus
argumentos contundentes. O representante dos psiquiatras concluiu: "O normal é
ter conflitos, e o anormal é ser saudável. O que seria da humanidade sem os
psiquiatras? Um albergue de seres humanos sem qualidade de vida! Por vivermos
numa sociedade doentia, declaro que somos, juntamente com os psicólogos
clínicos, os profissionais mais importantes da sociedade!" No estádio reinou um
silêncio. Muitos na platéia olharam para si mesmos e perceberam que não eram
alegres, estavam estressados, dormiam mal, acordavam cansados, tinham uma mente
agitada, dores de cabeça. Milhões de espectadores ficaram com a voz embargada.
Os psiquiatras pareciam imbatíveis. Em seguida, o mediador bradou: "O espaço
está aberto!" Sabem quem subiu depois? Os professores? Não! O representante dos
magistrados - os juízes de direito. Ele subiu num degrau mais alto e num gesto
de ousadia desferiu palavras que abalaram os ouvintes: "Observem os índices de
violência! Eles não param de aumentar. Os sequestros, assaltos e a violência no
trânsito enchem as páginas dos jornais. A agressividade nas escolas, os
maus-tratos infantis, a discriminação racial e social fazem parte da nossa
rotina. Os homens amam seus direitos e desprezam seus deveres." Os ouvintes
menearam a cabeça, concordando com os argumentos.
Em seguida, o representante
dos magistrados foi mais contundente: "O tráfico de drogas movimenta tanto o
dinheiro como o petróleo. Não há como extirpar o crime organizado. Se vocês
querem segurança, aprisionem-se dentro de suas casas, pois a liberdade pertence
aos criminosos. Sem os juízes e os promotores, a sociedade se esfacela. Por
isso, declaro, com o apoio dos promotores e do aparelho policial, que
representamos a classe mais importante da sociedade." Todos engoliram em seco
essas palavras. Elas perturbavam os ouvidos e queimavam na alma. Mas pareciam
incontestáveis. Outro momento de silêncio, agora mais prolongado. Em seguida, o
mediador, já suando frio, disse: "O espaço está novamente aberto!" Um outro
representante mais intrépido subiu num degrau mais alto da torre. Sabem quem foi
desta vez? Os educadores? Não! Foi o representante das forças armadas. Com uma
voz vibrante e sem delongas, ele discursou: "Os homens desprezam o valor da
vida. Eles se matam por muito pouco. O terrorismo elimina milhares de pessoas. A
guerra comercial mata milhões de fome. A espécie humana se esfacelou em dezenas
de tribos. As nações só se respeitam pela economia e pelas armas que possuem.
Quem quiser a paz tem de se preparar para a guerra. Os poderes econômico e
bélico, e não o diálogo, são os fatores de equilíbrio num mundo espúrio." Suas
palavras chocaram os ouvintes, mas eram inquestionáveis. Em seguida, ele
concluiu: "Sem as forças armadas, não haveria segurança. O sono seria um
pesadelo. Por isso, declaro, quer se aceite ou não, que os homens das forças
armadas não são apenas a classe profissional mais importante, mas também a mais
poderosa." A alma dos ouvintes gelou. Todos ficaram atônitos. Os argumentos dos
três oradores eram fortíssimos. A sociedade tinha se tornado um caos. As pessoas
do mundo todo, perplexas, não sabiam qual atitude tomar: se aclamavam um orador,
ou se choravam pela crise da espécie humana, que não honrou sua capacidade de
pensar. Ninguém mais ousou subir na torre. Em quem votariam? Quando todos
pensavam que a disputa havia se encerrado, ouviu-se uma conversa no sopé da
torre. De quem se tratava? Desta vez eram os professores. Havia um grupo deles
da pré-escola, do ensino fundamental, do médio e do universitário. Eles estavam
encostados na torre dialogando com um grupo de pais. Ninguém sabia o que estavam
fazendo. A TV os focalizou e projetou num telão. O mediador gritou para um deles
subir na torre. Eles se recusaram. O mediador os provocou: "Sempre há covardes
numa disputa." Houve risos no estádio. Fizeram chacota dos professores e dos
pais. Quando todos pensavam que eles eram frágeis, os professores, com o
incentivo dos pais, começaram a debater as idéias, permanecendo no mesmo lugar.
Todos se faziam representar. Um dos professores, olhando para o alto, disse para
o representante dos psiquiatras: "Nós não queremos ser mais importantes do que
vocês. Apenas queremos ter condições para educar a emoção dos nossos alunos,
formar jovens livres e felizes, para que eles não adoeçam e sejam tratados por
vocês." O representante dos psiquiatras recebeu um golpe na alma. Em seguida, um
outro professor que estava no lado direito da torre olhou para o representante
dos magistrados e disse: "Jamais tivemos a pretensão de ser mais importantes do
que os juizes. Desejamos apenas ter condições para lapidar a inteligência dos
nossos jovens, fazendo-os amar a arte de pensar e aprender a grandeza dos
direitos e dos deveres humanos. Assim, esperamos que jamais se sentem num banco
dos réus." O representante dos magistrados tremeu na torre. Uma professora do
lado esquerdo da torre, aparentemente tímida, encarou o representante das forças
armadas e falou poeticamente: "Os professores do mundo todo nunca desejaram ser
mais poderosos nem mais importantes do que os membros das forças armadas.
Desejamos apenas ser importantes no coração das nossas crianças.
Almejamos
levá-las a compreender que cada ser humano não é mais um número na multidão, mas
um ser insubstituível, um ator único no teatro da existência." A professora fez
uma pausa e completou: "Assim, eles se apaixonarão pela vida, e, quando
estiverem no controle da sociedade, jamais farão guerras, sejam guerras físicas
que retiram o sangue, sejam as comerciais que retiram o pão. Pois cremos que os
fracos usam a força, mas os fortes usam o diálogo para resolver seus conflitos.
Cremos ainda que a vida é obra-prima de Deus, um espetáculo que jamais deve ser
interrompido pela violência humana." Os pais deliraram de alegria com essas
palavras. Mas o representante do judiciário quase caiu da torre. Não se ouvia um
zumbido na platéia. O mundo ficou perplexo. As pessoas não imaginavam que os
simples professores que viviam no pequeno mundo das salas de aula fossem tão
sábios. O discurso dos professores abalou os líderes do evento. Vendo ameaçado o
êxito da disputa, o mediador do evento disse arrogantemente: "Sonhadores! Vocês
vivem fora da realidade!" Um professor destemido bradou com sensibilidade: "Se
deixarmos de sonhar, morreremos!" Sentindo-se questionado, o organizador do
evento pegou o microfone e foi mais longe na intenção de ferir os professores:
"Quem se importa com os professores na atualidade? Comparem-se com outras
profissões. Vocês não participam das mais importantes reuniões políticas. A
imprensa raramente os noticia. A sociedade pouco se importa com a escola. Olhem
para o salário que vocês recebem no final do mês!" Uma professora fitou-o e
disse-lhe com segurança: "Não trabalhamos apenas pelo salário, mas pelo amor dos
seus filhos e de todos os jovens do mundo." Irado, o líder do evento gritou:
"Sua profissão será extinta nas sociedades modernas.
Os computadores os estão
substituindo! Vocês são indignos de estar nesta disputa.' A platéia, manipulada,
mudou de lado. Condenaram os professores. Exaltaram a educação virtual. Gritaram
em coro: "Computadores! Computadores! Fim dos professores!" O estádio entrou em
delírio repetindo esta frase. Sepultaram os mestres. Os professores nunca haviam
sido tão humilhados. Golpeados por essas palavras, resolveram abandonar a torre.
Sabem o que aconteceu? A torre desabou. Ninguém imaginava, mas eram os
professores e os pais que estavam segurando a torre. A cena foi chocante. Os
oradores foram hospitalizados. Os professores tomaram então outra atitude
inimaginável: abandonaram, pela primeira vez, as salas de aula. Tentaram
substituí-los por computadores, dando uma máquina para cada aluno. Usaram as
melhores técnicas de multimídia. Sabem o que ocorreu? A sociedade desabou. As
injustiças e as misérias da alma aumentaram mais ainda. A dor e as lágrimas se
expandiram. O cárcere da depressão, do medo e da ansiedade atingiu grande parte
da população. A violência e os crimes se multiplicaram. A convivência humana,
que já estava difícil, ficou intolerável. A espécie humana gemeu de dor. Corria
o risco de não sobreviver... Estarrecidos, todos entenderam que os computadores
não conseguiam ensinar a sabedoria, a solidariedade e o amor pela vida. O
público nunca pensara que os professores fossem os alicerces das profissões e o
sustentáculo do que é mais lúcido e inteligente entre nós. Descobriu-se que o
pouco de luz que entrava na sociedade vinha do coração dos professores e dos
pais que arduamente educavam seus filhos. Todos entenderam que a sociedade vivia
uma longa e nebulosa noite. A ciência, a política e o dinheiro não conseguiam
superá-la. Perceberam que a esperança de um belo amanhecer repousa sobre cada
pai, cada mãe e cada professor, e não sobre os psiquiatras, o judiciário, os
militares, a imprensa... Não importa se os pais moram num palácio ou numa
favela, e se os professores dão aulas numa escola suntuosa ou pobre - eles são a
esperança do mundo.
Diante disso, os políticos, os representantes das classes
profissionais e os empresários fizeram uma reunião com os professores em cada
cidade de cada nação. Reconheceram que tinham cometido um crime contra a
educação. Pediram desculpas e rogaram para que eles não abandonassem seus
filhos. Em seguida, fizeram uma grande promessa. Afirmaram que a metade do
orçamento que gastavam com armas, com o aparato policial e com a indústria dos
tranqüilizantes e dos antidepressivos seria investida na educação. Prometeram
resgatar a dignidade dos professores, e dar condições para que cada criança da
Terra fosse nutrida com alimentos no seu corpo e com o conhecimento na sua alma.
Nenhuma delas ficaria mais sem escola. Os professores choraram. Ficaram
comovidos com tal promessa. Há séculos eles esperavam que a sociedade acordasse
para o drama da educação. Infelizmente, a sociedade só acordou quando as
misérias sociais atingiram patamares insuportáveis. Mas, como sempre trabalharam
como heróis anônimos e sempre foram apaixonados por cada criança, cada
adolescente e cada jovem, os professores resolveram voltar para a sala de aula e
ensinar cada aluno a navegar nas águas da emoção. Pela primeira vez, a sociedade
colocou a educação no centro das suas atenções. A luz começou a brilhar depois
da longa tempestade... No final de dez anos os resultados apareceram, e depois
de vinte anos todos ficaram boquiabertos. Os jovens não desistiam mais da vida.
Não havia mais suicídios. O uso de drogas dissipou-se. Quase não se ouvia falar
mais de transtornos psíquicos e de violência. E a discriminação? O que é isso?
Ninguém se lembrava mais do seu significado. Os brancos abraçavam afetivamente
os negros. As crianças judias dormiam na casa das crianças palestinas. O medo se
dissolveu, o terrorismo desapareceu, o amor triunfou. Os presídios se tornaram
museus. Os policiais se tornaram poetas. Os consultórios de psiquiatria se
esvaziaram. Os psiquiatras se tornaram escritores. Os juizes se tornaram
músicos. Os promotores se tornaram filósofos. E os generais? Descobriram o
perfume das flores, aprenderam a sujar suas mãos para cultivá-las. E os jornais
e as TVs do mundo? O que noticiavam, o que vendiam? Deixaram de vender mazelas e
lágrimas humanas. Vendiam sonhos, anunciavam a esperança... Quando esta história
se tornará realidade? Se todos sonharmos este sonho, um dia ele deixará de ser
apenas um sonho.
CONCLUINDO
É possível concluir que a sociedade depende do professor para que ela não desabe,
para que continue ocorrendo as mudanças de pensamento, para que seja possível
um mundo melhor, e que amanhã aqueles que serão as autoridades, tenham o
conhecimento, aprendam a história, saibam como agir. Com isso é importante dar
valor a uma tão estimada profissão, que transmite ideias e pensamento, que
ensina aos alunos a criar ideias, a criar conceitos, a formar seu próprio
pensamento. É possível ainda concluir que o professor tem a função de formar
pensadores, filósofos. Porque filósofos?
Porque eles têm a arte de filosofar e Bianna (2014, p. 10, apud
SPONVILLE, 2002.). Conceitua dizendo que:
Filosofar
é pensar por conta própria apoiando-se no pensamento dos outros, mas como
filosofar? Simples! Se interrogando sobre o seu pensamento e o pensamento dos
outro acerca de todos os assuntos. É pensar na vida, na sociedade e até no
próprio pensamento.